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Manoel Felipe M de Albuquerque
"É dever de um cavalheiro saber cavalgar, atirar, lutar esgrima,boxe, nadar, remar e dançar. Ele deve ser natural. Se atacado, um homem deve saber defender-se a si próprio, e também defender as damas que estejam em sua companhia."
(Regras de etiqueta e cultura doméstica. 1886)
Pesquisando na net achei um texto muitíssimo interessante, publicado no Aikido Journal (nº 113 em 1998 ) de autoria do sensei Stanley Pranin, O referido material foi traduzido por Murilo Garcez, da academia CLAM-Goiânea e tinha como título Etiqueta e Preservação do Bem Estar.
Basicamente, o texto discute um comentário do sensei Katsyuki Kondo do Daito Ryu Aikijujutsu: O objetivo da etiqueta (reigi saho) é a auto defesa.
Curiosamente, bem antes de ler este texto, por diversas vezes havia mantido posição semelhante quando eu ministrava aulas de aikido: o verdadeiro guerreiro é educado, tanto por uma questão de tradição quanto de sobrevivência. A origem de diversos hábitos costumes (sociais, protocolares, roupas,etc) - tanto orientais quanto ocidentais -foi inspirada em posturas que os guerreiro utilizavam para expor-se o mínimo possível frente ao inimigo (ou provável inimigo ) e/ou proteger sua família e/ou grupo social.
Assim, homens que demostravam tais costumes, tais conhecimentos mostravam serem educados, ou seja preparados, adestrados, treinados para defender suas propriedades, sua parceira, sua herança e seus descendentes. Daí a valorização da boa educação e da elegância.
Parece um pouco paranóico? Vamos analisar alguns casos:
- O aperto de mão (antigo costume romano). A etiqueta diz que ele deve ser usado ao ser apresentado para alguém em sinal de acordo firmado. Ele deve ser :
- Sempre com a mão direita ( a maioria das pessoas era destra e utilizava esta mão para sacar a arma). Além disso, honrava que estava tendo a mão apertada, pois em algumas culturas a mão esquerda era utilizada apenas para serviços sujos( limpar o anus, por exemplo). A outra mão- por razões obvias - NUNCA deve ficar guardada no bolso ou ficar escondida;
- Aperto firme. Enquanto a mão estive apresada, nenhum dos 2 individuos conseguiria sacar sua arma a tempo suficiente, assim os 2 estariam seguros. Daí o pensamento que quem aperta a mão sem firmeza não tem caráter.
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| Mais do que ser um homem, é preciso ser um cavalheiro |
2. O cavalheirismo. Quando um homem e uma mulher caminham na calçada, a etiqueta diz que o cavalheiro deve ficar do lado mais próximo do meio fio, a fim de proteger a dama de lama e sujeira lançadas por veículos e bem como de possíveis ataques vindos de veículos ( atropelamentos, sequestros, roubos, etc) ou de meliantes do lado oposto da calçada.
Além disso, vamos lembrar que é o homem quem oferece o braço à mulher. Ela, se quiser o aceita. Talvez fosse um código secreto: ela mostraria a todos que acompanhava o homem por sua própria vontade. Se o contrario se verificasse (o homem a arrastasse pelo braço), a mensagem para a sociedade seria de que ela estava sendo coagida ou sequestrada. Verificando esta situação, um verdadeiro cavalheiro poderia então socorre-la do agressor;
3.Moda. Diversos modelos de gravatas e colarinhos altos fazem parte da elegância masculina há muito tempo. Segundo a página de capoeira que visitei, os descendentes de europeus (principalmente portugueses), em nosso país se vestiram assim durante muito tempo para evitar navalhadas/facadas no pescoço. Os de situação mais humilde, amarravam um lenço ano ao redor do pescoço com o mesmo objetivo. Além disso o lenço /gravata ainda servia para comprimir um eventual corte na face provocado por um instrumento cortante;
4. À mesa: o costume de convidado de servir-se apenas depois do anfitrião, vem do tanto de se fazer honras ao provedor ( visto ter sido ele que providenciou o alimento) quanto do receio de ser envenenado. Machiavel já sugeria àqueles que tinham um exército menor: "renda-se e convide seu inimigo para um jantar. Durante o jantar... Envene-o". Essa tática foi utilizada durante muito tempo pela máfia italiana: ás vezes um colega ligava pedindo para trabalhar em seu território e o mafioso respondia: "tudo bem". Quando o "colega chegava, era recebido com um jantar de boas vindas e então envenenado ou fuzilado;
5. Visitando. O ato de retirar o chapéu (ou boné ou boina) quando se entra numa casa e entrega-lo ao proprietário da mesma vem da época em que se utilizava capacetes para entrar em casa inimiga, temendo uma cacetada, por exemplo. Tirar o chapéu mostrava confiança e boas intenções (visto que pode ser escondida uma faca ou outra arma dentro do chapéu.
Não se deve jamais confundir boa educação com temeridade. Não se deve arriscar a integridade em prol da etiqueta. E eu não sou o único a pensar assim. O genial Akira Kurosawa colocou isso no filme Os 7 Samurais.
Numa cena onde estavam recrutando samurais...O samurai recrutador ficava dentro de uma cabana com a porta aberta, convidando as pessoas a entrarem. Escondido atrás da porta ele colocou um jovem, de tocaia, armado de um porrete.
O primeiro homem que entrou levou uma baita cacetada(rs)... Não servia.
O segundo homem entrou e conseguiu se desviar do ataque e derrubar o agressor. Tinha boa Técnica
O terceiro homem a ser convidado...mirou a porta aberta por alguns instantes e disse: "Por favor, vamos parar com essa brincadeira! Vc acha que eu seria tão estúpido a ponto de entrar aí?"
Em minha opinião...e também na de Akira Kurosawa...Este foi o melhor samurai...o que menos se expôs...O que antecipou o ataque e tomou providências a respeito.
"Aiki jujutsu é uma forma de combate que enfatiza a neutralização antecipada de um ataque"
(Stanley Pranin)
Hoje os jovens, não estão tendo acesso a estas informações, a saber o porque deste cuidados e costumes e tendem - devido à rebeldia comum à própria idade- desprezá-los achando que estão ultrapassados. Isso é um grande erro e pode um dia trazer consequências desastrosas, pois ser educado é antes de tudo uma questão de sobrevivência.
FELIPE ALBUQUERQUE
Médico veterinário e estudante de aikido. Apaixonado pela vida, acredita que todas são importantes e que ninguém tem o direito de por a sua própria em risco, exceto por um valor maior.
Referências
Imagens: Divulgação
Posted in: Aikido e Vida,Defesa Pessoal,Princípios
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