domingo, 10 de junho de 2012

KATA /KIHON OU RANDORI ?


Para estudar o caminho é necessário estudar a  si mesmo
Para estudar a sim mesmo é preciso esquecer a si mesmo
(Provérbio Zen)

Certamente este é um assunto dos mais polêmicos em artes marciais

Na maioria das antigas  artes marciais ( AMs) japonesas havia o treino de kata, ou formas definidas de reagir a um ataque. Uma luta imaginária.  Os katas eram como se fossem a "cartilha " do sistema praticado, onde se aprimoravam os movimentos nos quesitos da forma (kihon), velocidade, distancia ( maai), timming (deai), coordenação motora, respiração (kokyu) etc. Além disso, é sabido que numa luta plena, não existe espaço para pensar. O que importa é a reação condicionada e automática à agressão. A reação - treinada repetidas vezes - passa a fazer parte da  memória muscular. Dessa forma, a prática do kata permitia que o praticante - através da luta imaginária  - melhorasse sua memória muscular e assim aprimorasse sua performance na luta real. 

Destarte, houve ocasiões em que a situação politica era contrária a pratica marcial. Para que os ensinamentos não perdessem, deviam ser treinados em segredo, às vezes em lugares pequenos e inadequados. A prática do kata, por utilizar apenas 1-2 pessoas (pai e filho, por exemplo), não despertava suspeitas. Que crime poderia haver, por exemplo se pai e filho se encontrassem por uma ou duas horas, todos os dias apos o jantar? Ponto pro kata.

As escolas antigas (koryu) de esgrima e de jujutsu desestimulavam a  prática da luta (randori) , devido ao risco de se aleijar ou mesmo matar um aluno. O próprio Funakoshi -fundador do karate moderno - era contrário à esta prática.

Jigoro Kano
 Mas então apareceu um jovem professor japonês de AM, mostrando uma nova forma de ensinar, privilegiando uma sistemática científica ao invés da tradição. Entre outras coisas, seus estudos mostravam que a prática do treino livre (randori) - desde que bem controlado e supervisionado -  era vantajoso, porque fazia com que o aluno colocasse em prática aquilo que estava aprendendo, pois o combate pleno era imprevisível . Seu nome: Jigoro Kano, o fundador do judo. 

Jigoro Kano tinha números para defender suas idéias. Seus alunos, em desafios contra outros koryus de jujutsu dificilmente perdiam. Logo sua sistemática passou a ser adotada por outras AMs, inclusive as não japonesas. Ponto pro randori.

Entretanto, o próprio Kano, em seu livro Energia Mental e Física fala que o estudo do kata e do randori se complementam:

"(...)Se vc não treinar regularmente, encontrará dificuldade para se esquivar ou escapar do oponente com rapidez quando ele o atacar. (...)Se vc parar para pensar  em como escapar do ataque dele antes de atacar, vai ser atingido antes que possa se esquivar. se vc não praticar todos os dias para que seu corpo reaja automaticamente estará vulnerável ao ataque.
(...)O contrário também é verdade Se vc não treinar o kata repetidamente todos, seu próprio  atemi não sera eficiente. Não importa que saiba onde fiquem os pontos vitais ou que tenha ficado muito forte com o randori, se não praticar o kata, não sera um oponente habilidoso. (...) Outra razão para que eu recomendo a pratica do kata é que se praticar apenas randori(...)pode ter problemas  físicos a medida que fica mais velho. (...)com o kata, vc pode praticar com relativa facilidade ate uma idade avançada.(...)Assim, a pratica constante e entusiasmada do kata é essencial desde a juventude, para aumentar o interesse, a habilidade e ajudar o estudante a ter um caminho longo, feliz e agradável(...) até a idade madura.
(Jigoro Kano)


Não interessa o quanto vc sabe.
Interessa o que consegue fazer com aquilo que vc conhece

(Bruce Lee)
No caso específico do aikido deve ser feito uma análise mais profunda. Segundo Nicky Lowry, quando o Kaiso criou o aikido ele não sistematizou nenhuma forma. Nem sequer deu nome a seus movimentos. Ele simplesmente pedia que as pessoas o atacassem e executava determinado movimento. Era ação e reação! Ele não sabia como seria atacado e os ukes nao sabiam como o ataque seria defendido. Do ponto de vista físico, poderíamos comparar a uma luta encerrada com um  único movimento! Era apenas AIKIDO! Entretanto isso se perdeu... A sistematização foi necessária para o crescimento da arte marcial e infelizmente se perdeu parte da essência da fluidez ( ki-no-nagare).
No aikido, o randori significa a busca pela resposta certa.
O objetivo não é destruir o adversário. É acabar com o problema

Em segundo lugar, no aikido, não lutamos, estudamos! Estudamos a forma técnica, a anatomia, a estratégia e o relacionamento. Estudamos principios e técnicas que devem funcionar tanto para a defesa pessoal como para a vida (pessoal e profissional) , para os relacionamentos.  E todo relacionamento é fluído. Assim, embora não possamos - nem devamos- parar o estudo do kata, acreditamos ser  imprescindível treinar a forma livre (randori) a fim de que saiamos do movimento automático e deixarmos o fluxo de ki  (ki-no-nagare) seguir seu destino.

Bons Treinos



Manoel Felipe Mesquita de Albuquerque






Referências :
Kata - Conceitos e Pensamentos
Nicky Lowry: There are kata in Aikido? Aikido Journal, 2009,october
Energia Mental e Física - Escritos do Fundador do Judo, p 116-118.

Imagens: Divulgação

1 comentários:

Manoel Felipe M de Albuquerque disse...

Kata e Randori
Um precisa do outro
Se vc só treina kata...Vai ganhar base de movimentos, forma, beleza
Se vc só treina randori...Vai ganhar em improviso, em fluidez....mas com o tempo os movimentos perderão a forma.

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